crônica publicada em 19.03.2020, no Facebook
A exigência, feita por minha mãe, foi que meu pai completasse ao menos vinte e cinco anos para que finalmente pudessem se casar. Com a diferença de quase três anos na idade, a cerimônia aconteceu exatamente um dia depois do vigésimo quinto aniversário dele. Minha mãe, com quase vinte e oito e grávida há quatro meses desse que vos escreve, vestia uma roupa branca de gestante e calçava um all star da mesma cor, mas alguns laços amarelados em seu blusão proporcionavam um discreto requinte para a ocasião. Já meu pai, ainda distante dos ternos e gravatas que um dia fizeram parte de seu cotidiano, usava vestes cabíveis em qualquer situação mais informal, como quem se arruma para uma segunda-feira de trabalho atrás de um balcão.
O matrimônio aconteceu na casa em que minha avó materna morava com seus filhos que ainda não haviam lhes dado nenhum neto - o da barriga da minha mãe seria o primeiro - e, respeitando a ausência de crença dela à época, não houve nenhuma cerimônia religiosa, o dono do cartório era a maior autoridade do recinto. Também não trocaram alianças, pois o valor a ser desembolsado daria para comprar a geladeira e, sabiamente, optaram pelo eletrodoméstico ao invés dos acessórios dourados nos dedos.
Nesse ambiente de laicidade e desprendimento com algumas tradições, acabei por vir ao mundo pouco tempo depois. Assim, sempre lembramos da data do casamento por ser um dia após o aniversário do meu pai e pela quantidade de anos ser exatamente a idade que completo logo em seguida, no mês de agosto.
Hoje, vendo as fotos da cerimônia, bonita e simples, fico feliz por notar que essa família, mesmo crescida e aos trancos e barrancos, preserva a mesma beleza e simplicidade da fotografia que hoje completa trinta e dois anos.
Lucas Lima
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